Carta aberta ao Senhor
Reitor da Unisinos, Padre Marcelo Fernandes de Aquino
Fomos informados pelo
Jornal VS de 2 de setembro último que o Tecnosinos pretende “apropriar-se” de
uma área de 55 hectares do Horto Florestal Padre Balduíno Rambo com a finalidade
de abrigar 300 novas empresas de tecnologia da informação. Nada temos contra o
Tecnosinos ou contra a tecnologia, muito menos contra o protagonismo da
Unisinos no investimento
em inovação, empreendedorismo ou geração de emprego e renda para a juventude. Entretanto,
custa-nos acreditar que a Unisinos tenha decidido assumir publicamente a
responsabilidade pela destruição de qualquer parte desta mata viva, cheia
pássaros, répteis, pequenos mamíferos e insetos da mais variada ordem,
inclusive as cada vez mais raras abelhas silvestres, derrubando árvores e arbustos
nativos que contam mais de cinquenta anos de convivência com os exóticos e
magníficos eucaliptos que enfeitam, purificam e perfumam o ar que todos nós
respiramos diariamente.
Da
Universidade espera-se o exemplo na preservação da natureza, isto é, educação
ambiental. Os argumentos que vêm sendo utilizados para justificar tal barbárie
são frágeis e insuficientes, quando não absurdos e inverídicos. A mata local
não está se “depreciando” como afirma a diretora do Tecnosinos, Susana Kakuta.
A mata está viva, basta deixar o mato crescer em paz, é um absurdo falar em
depreciação da floresta por mantê-la intacta. Não há um único ponto de invasão
em todos os 55 hectares de floresta, apesar de os órgãos responsáveis, — a
Fundação Zoobotânica e o Governo do Estado —, manterem a área sem cerca nem
calçada, sem guarda montada ou qualquer tipo de segurança, como seria sua
obrigação.
O Horto Florestal que
estamos ameaçados de perder foi oficializado em lei pelo Governador Leonel
Brizola em 1959, a partir de estudos realizados pela Assembleia Legislativa,
com o aval do então Deputado Paulo Brossard de Souza Pinto e o incondicional e
decisivo apoio do Padre Jesuíta Balduíno Rambo, uma autoridade inquestionável, precursor
do ambientalismo no Brasil. Tanto que em 2002 o Governador Olívio Dutra assinou
decreto dando ao Horto o nome do padre que, em seus escritos à época já
alertava para o “imediatismo
inconsiderado no esbanjamento dos nossos recursos naturais”. O que diria o
estudioso padre hoje, ao ver seus irmãos de congregação conspirando junto a
políticos e empresários para derrubar as árvores e transformar num aglomerado
de indústrias o Horto Florestal que tão justamente leva seu nome?
Ilustre
Senhor Reitor, apelamos para sua sensibilidade e sabedoria, sua espiritualidade
e sua responsabilidade nesta questão. É de sustentabilidade que estamos
falando, há muitas vidas em jogo, animais e vegetais, há o futuro e a saúde de
toda uma comunidade, há o exemplo de preservação a ser dado por quem tem
obrigação de dar exemplo, promover e defender a vida e as futuras gerações. Por
certo há alternativas em outras áreas da cidade, construções verticais que
ocupem menos espaço físico, áreas que realmente precisem de gestão ambiental e
reflorestamento. Há autoridades científicas dentro da própria Unisinos capazes
de encontrar soluções melhores que esta para os problemas de expansão do
Tecnosinos.
Somos
pessoas anônimas em defesa da floresta. Queremos o Horto preservado. Contamos
com seu apoio na luta pelo cercamento do parque, pela implantação de um sistema
de segurança que permita aos professores e alunos da Unisinos estudarem a mata
e as incontáveis espécies biológicas que aqui encontraram refúgio. Precisamos
da sua ajuda na implantação de um jardim botânico ou de um parque público
sustentável e digno do nome jesuíta que leva. Para que a sociedade local possa
orgulhar-se de seu bairro, de sua cidade e de sua Universidade.
Muito
obrigado,
Movimento
Horto Preservado – São Leopoldo, 14 de setembro de 2011.
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