Mata viva na cidade

Mata viva na cidade

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Carta aberta ao Senhor Reitor da Unisinos


Carta aberta ao Senhor Reitor da Unisinos, Padre Marcelo Fernandes de Aquino
Fomos informados pelo Jornal VS de 2 de setembro último que o Tecnosinos pretende “apropriar-se” de uma área de 55 hectares do Horto Florestal Padre Balduíno Rambo com a finalidade de abrigar 300 novas empresas de tecnologia da informação. Nada temos contra o Tecnosinos ou contra a tecnologia, muito menos contra o protagonismo da Unisinos no investimento em inovação, empreendedorismo ou geração de emprego e renda para a juventude. Entretanto, custa-nos acreditar que a Unisinos tenha decidido assumir publicamente a responsabilidade pela destruição de qualquer parte desta mata viva, cheia pássaros, répteis, pequenos mamíferos e insetos da mais variada ordem, inclusive as cada vez mais raras abelhas silvestres, derrubando árvores e arbustos nativos que contam mais de cinquenta anos de convivência com os exóticos e magníficos eucaliptos que enfeitam, purificam e perfumam o ar que todos nós respiramos diariamente.
Da Universidade espera-se o exemplo na preservação da natureza, isto é, educação ambiental. Os argumentos que vêm sendo utilizados para justificar tal barbárie são frágeis e insuficientes, quando não absurdos e inverídicos. A mata local não está se “depreciando” como afirma a diretora do Tecnosinos, Susana Kakuta. A mata está viva, basta deixar o mato crescer em paz, é um absurdo falar em depreciação da floresta por mantê-la intacta. Não há um único ponto de invasão em todos os 55 hectares de floresta, apesar de os órgãos responsáveis, — a Fundação Zoobotânica e o Governo do Estado —, manterem a área sem cerca nem calçada, sem guarda montada ou qualquer tipo de segurança, como seria sua obrigação.
O Horto Florestal que estamos ameaçados de perder foi oficializado em lei pelo Governador Leonel Brizola em 1959, a partir de estudos realizados pela Assembleia Legislativa, com o aval do então Deputado Paulo Brossard de Souza Pinto e o incondicional e decisivo apoio do Padre Jesuíta Balduíno Rambo, uma autoridade inquestionável, precursor do ambientalismo no Brasil. Tanto que em 2002 o Governador Olívio Dutra assinou decreto dando ao Horto o nome do padre que, em seus escritos à época já alertava para o “imediatismo inconsiderado no esbanjamento dos nossos recursos naturais”. O que diria o estudioso padre hoje, ao ver seus irmãos de congregação conspirando junto a políticos e empresários para derrubar as árvores e transformar num aglomerado de indústrias o Horto Florestal que tão justamente leva seu nome?
Ilustre Senhor Reitor, apelamos para sua sensibilidade e sabedoria, sua espiritualidade e sua responsabilidade nesta questão. É de sustentabilidade que estamos falando, há muitas vidas em jogo, animais e vegetais, há o futuro e a saúde de toda uma comunidade, há o exemplo de preservação a ser dado por quem tem obrigação de dar exemplo, promover e defender a vida e as futuras gerações. Por certo há alternativas em outras áreas da cidade, construções verticais que ocupem menos espaço físico, áreas que realmente precisem de gestão ambiental e reflorestamento. Há autoridades científicas dentro da própria Unisinos capazes de encontrar soluções melhores que esta para os problemas de expansão do Tecnosinos.
Somos pessoas anônimas em defesa da floresta. Queremos o Horto preservado. Contamos com seu apoio na luta pelo cercamento do parque, pela implantação de um sistema de segurança que permita aos professores e alunos da Unisinos estudarem a mata e as incontáveis espécies biológicas que aqui encontraram refúgio. Precisamos da sua ajuda na implantação de um jardim botânico ou de um parque público sustentável e digno do nome jesuíta que leva. Para que a sociedade local possa orgulhar-se de seu bairro, de sua cidade e de sua Universidade.
Muito obrigado,
Movimento Horto Preservado – São Leopoldo, 14 de setembro de 2011.

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